Roda da Fortuna

Data 28/05/2020 23:44:45 | Tópico: Poemas -> Esperança

Pagarei meus pecados com minha vida,
Que eu não possuo qualquer outra coisa.
Sou a imagem viva de um defunto;
Da dor que nunca morre, guarnecida
De flores e saudade, como noiva
Que foi Bovary; disto sou transunto.

Viver entre os sentidos incompletos
Da algema tenebrosa da carne louca
Custou-me estes pecados que se imprimem
Neste meu tolo espírito irrequieto.
Carne!... na amargura de tua boca
Os curiosos lábios se consomem.

Do teu seio só sai amargo sangue.
Com sangue amamenta-nos e imola:
Nos retém de teu berço à tua cova.
Nos tem como Saturno, que os exangues
Filhos comeu. Até quando nos enrola?
Somos a morte que sempre renova.

Chegará terno dia em que eu serei
Sepultado em teus braços, complacente.
-O que é da carne, é Carne, e a carne é fraca.-
Então, apodrecido, sorrirei.
Liberto desta Carne tão doente
Quebrarei a eterna roda da Parca.


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