Cárcere Privado

Data 30/05/2020 14:48:40 | Tópico: Textos -> Tristeza


A história a ser narrada é verídica e teve o seu início no Brasil da década de trinta no estado da Bahia. Nomes, lugares e outros foram propositadamente alterados visando proteger identidades. Naquele momento o País vivia uma revolução armada liderada pelos Estados de Minas Gerais, Rio Grande Do Sul e Paraíba insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais.
O mesmo período também é época do Coronelismo, onde os Coronéis tinham o controle político e social da nação.
Como se tudo isso já não fosse ruim, é época também do Cangaço que foi um período de banditismo, crimes e muita violência onde os criminosos se reuniam em bandos sob uma liderança e se alastrou por quase todos os estados do nordeste. Seus membros vagavam em grupos, atravessando estados e atacando cidades, onde cometiam pilhagens, assassinatos e estupros.
Lampião, um criminoso e assassino passa a aterrorizar o sertão nordestino e por suas barbáries fica conhecido como o rei do Cangaço. Atacava fazendas e cidades com atos de selvageria.
Estupros, sequestros, castração, assassinatos e marcação a ferro quente eram frequentes e corriqueiros.
Fugindo das polícias de vários Estados, Lampião entra na Bahia, onde conhece Maria Bonita com a qual tem uma filha, Expedita.
É dentro deste contexto de revolução armada, Coronelismo e Cangaço, que nossa história tem início, um fato real acontecido naquele momento da história, lá em uma cidadezinha da Bahia.

Ela, tinha um sonho, como toda a adolescente de sua época que era desde tenra idade preparada para ser mãe e dona de casa. Ela queria se casar de véu e grinalda e ter um marido que a respeitasse e amasse. Não tinha aos 11 anos de idade nenhuma motivação para preocupações com a vida além disso. Seu mundo girava em torno de ir as missas aos domingos com seus pais, ir a escola e a venda afastada cerca de 10 minutos de caminhada de onde morava com seus pais. Ela, era muito bonita, morena, olhos castanhos, sempre sorridente com os cabelos pretos lisinhos na altura da cintura. Andava sempre muito bem arrumadinha fosse indo para a escola, ou a venda a pedido de sua mãe.
Seu pai era ourives e sua mãe cuidava da filha e dos afazeres domésticos. Eram pobres na verdade, mas como bons pais, sempre sacrificavam tudo pela filha.
Júlio, seu pai imaginava poder ver a filha um dia indo para faculdade e se formando em medicina, Ela com certeza seria alguém na vida.
Maria, sua mãe já pensava um pouco diferente, sempre em suas orações pedia a Deus um bom casamento para sua filha. Por Ela ser dedicada as tarefas escolares e ser uma boa filha, inconscientemente alimentada os sonhos de ambos.
Apesar da pobreza, Ela tinha um quarto só seu. A noite abria a janela e ficava admirando a beleza das estrelas imaginando o que haveria no mundo mais brilhante do que elas. Como seria a vida nas cidades grandes da qual só ouvia falar? Com isso o sono vinha e Ela fechava a janela e adormecia.
Cada dia que amanhecia era por Ela recebido com muita alegria. Naquela manhã de verão particularmente quente e ensolarada, como de costume Ela vai a venda buscar leite, pão e o pó de café que tinha acabado.
Sua mãe naquele dia tinha a orientado para falar para o dono da venda que era para anotar a compra na caderneta.
Quando Maria se dá conta já tinham decorridos mais de trinta minutos e Ela ainda não havia retornado para a casa. Um pressentimento horrível passa por seu coração e Maria sai correndo em direção a venda e cai desfalecida ao saber que a filha não tinha chegado lá.
Voltando a si amparada pelo dono da venda Maria corre para o serviço do Marido e em prantos lhe dá a notícia.
Desesperados ambos saem correndo pelas ruas e perguntando aos moradores se viram uma menina de 11 anos.
Ao final do dia chegam a delegacia mais próxima e pedem ajuda as autoridades. A polícia inicia as buscas, conversam com as pessoas da escola, amigas, parentes e vizinhos. Ninguém viu nada, ninguém sabe apontar qualquer pista sobre o paradeiro de Ela.
Os dias passam, semanas, meses e os pais dela investem absolutamente tudo que têm, penhoram a casa, para terem como encontrar a filha.
Contudo com o passar do tempo a polícia desiste do caso e seus pais encontram-se sozinhos nesta busca.
Até mesmo amigos e familiares passam a os desestimular acreditando que eles deviam tocar a vida.
Uma certeza ancora tal cruzada, uma intuição de mãe dizia que a filha estava viva.

Continua ...

Fato Verídico, história inédita. Primeira vez vindo a público.
Os escritos são os primeiros ensaios para se contar esta história em homenagem a Ela. Tais escritos após revisões comporão O livro de Ela.
A imagem é mera ilustração.



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