Cego debruçado em via-estreita

Data 09/07/2020 11:54:54 | Tópico: Poemas











Há palavras de vulgar despojo,
Pois porque o normal é dar, logo
Eu me dou, de mim próprio, tal
Como choro ou respiro e me redimo,

Mortal despojo, nome de guerra, nojo,
Guerreiro de latão, charlatão, só de incerteza
Tenho pose chaves e certidão; desejo é
Bom-porto, Porto-bom tem Zenão,

O silêncio é absurdo e o meu espírito
Paira longe ao longo, pois já não é só o pensar
Que me foge, eu que fujo de me pensar
Morto e mudo, cego debruçado em via-estreita,

Consciente da derrota, fama é lama e o facto
De ser dissemelhante a algum outro
Espécime de peixe-monge, faringe desfeita
E traqueia, difíceis de engolir, de pesar,

Há palavras de vulgar despojo, nojo
Porém me dá a fala sem emoção, “fio-prumo”,
Por isso choro, quando respiro
De fora para dentro…e me dou,

Cego debruçado em via-estreita e oblonga,
Vivo metaforicamente falando pra fora
E me queixo não por intenção mas por despeito,
Cedo por entre a prega do beiço, essa sim,

Autêntica, sábia, cega e verdadeira.







Jorge Santos 01/2019



https://namastibet.wordpress.com
http://namastibetpoems.blogspot.com







Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=351548