Despido de tudo quanto sou…
Data 10/07/2020 12:42:23 | Tópico: Poemas
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Andei distraído procurando o que não via Nem vejo, visto que sou pequeno, Viro o rosto pra de onde venho E não pra onde fui posto, Vejo nas estrelas o rosto, Não da morte mas do oposto, da vida Pra’lém do percurso que fui, fiz nesta Terra
Outrora bela, soberba … Outrora viva, Andei por aí buscando o repouso, Não via nem vejo, a fonte do limo, O álamo esguio, O negrume do teixo, da terra preta o apelo, Das folhas mortas,
Abdiquei de ser rei, Pra ser jardineiro “por conta própria”, Sem reino nem terreno pra arar, Podei as rosas dos quintais dos outros E observei pardais nos ninhos, Nas sombras os olivais dir-se-iam deuses mortais, Não contei quantos, mas muitos, muitos.
Há muito que desejo desertar, Mas as pernas na beira da estrada, Estão sempre fora de mim e o meu coração … lento, Lento não dá pra fugir por aí de rastos Admito não ter dormido todo o tempo do mundo, Mas mesmo assim penso como se fosse madrugada E domingo, cada vez que me levanto
Sem vida e me mudo pro outro lado da cama, Na mesma fronha que uso desde que vim ao mundo, Sinto um ritual de vencedor num corpo derrotado, O que muda são apenas os sonhos que persegui Sem sucesso ao longo do tempo E ainda sonho sonhos que não sigo, Acatei a derrota,
Sinto um ritual de vencedor nas asas E nas pernas o símbolo das coisas Que me pegam ao chão terreno, “Rocket-man”, visto que O meu território é de ar, Balouço-me na fronteira do tudo e do nada, Qualquer um desses reinos me conforma,
A memória passa sem se ver, sem se dar Sonhar é não estar presente em nenhum Destes países Pra sempre, Duvidar é dar liberdade ao voo … O plano é adormecer descrente, Desnudo de tudo o que sei, Despido de tudo quanto sou.
Jorge Santos 11/2018
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