
Inventário
Data 11/07/2020 13:07:51 | Tópico: Poemas
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Quero a partida breve como a chegada Plena e tranquila, mas letal como um raio Como a lucidez de um vôo rasteiro de águia Mas simples como um banho nu de cascata Na partida quero as certezas das metáforas Disparadas durante as tempestades Que os adjetivos sejam postos e os substantivos próprios me cerquem de luz Quero poesias transitando, vivas E cada verso acaricie os amores que respirei Transbordando nas lágrimas fabricadas Que cada alimento cultivado em estrofes Brotem sementes dessa passagem Que as cédulas sejam atiradas ao fogo Cremadas com as vaidades vãs Atiradas aos jardins da piedade Nessa partida, retratos expostos Das manhãs pecadoras, das tardes embriagadas, das noites promíscuas Que a lua esteja presente, límpida Como uma noiva já despida ao prazer Que cada face seja anfitriã de um amanhecer Que cada olhar aviste os momentos Dos rascunhos de outrora Da infância perdida, do carinho roubado Da fome saciada em pedaços Da sede torturada em sonhos, aos goles Que o aconchego das meninas Sejam doses etílicas de saudades Destiladas ao prazer rompido Na partida, do véu rasgado, revelado Esteja o perdão como frutas maduras Caídas ao chão, recolhidas, degustadas Que o mar seja um poeta voraz Com as ondas recitando Nietzsche Afogando temores, revelando amores Nessa travessia, quero corpos e almas nuas Com corações flambados de paixões Mas que essa partida esteja perdida Que não ouse nos atalhos apressados Dessa estada que me encontro Onde me lambuzo de vida, vida, vida...
(M.Bessa)
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