Manhã de Outono

Data 12/07/2020 08:39:01 | Tópico: Poemas

Não queria acreditar,
Mas tudo parecia ser verdade ou então uma mentira muito cruel...
Pelo caminho o vento arremessa contra mim as folhas caídas,
Caminhei por entre elas arrastando algumas comigo entre passos que se tornavam mais curtos,
Cheguei...entrei na capela antiga e logo ao fundo, uma imagem de leito de morte me atormentou...
Estremeci...despi-me de sentimentos e aproximei-me...
Eras tu ali deitada, vestida de púrpura e rodeada de flores,
Mas…Não,
Não podias ser tu,
Ainda nem há dois dias te vi deslumbrante como sempre...
Não podias ser tu, era engano com certeza,
Era um pesadelo que eu estava a ter e a qualquer momento ia acordar,
Recordar e esquecer...
Ao teu redor ouvia choros e desespero, aproximei-me mais...
Agora sim, podia ver-te melhor...
Não senti uma lamina afiada trespassar-me como pensei que iria sentir,
Nem tão pouco foi algo sereno...
Foi como se o mundo me caísse em cima e me rodeasse apenas de escuridão...
Mas se ali eras tu, ao mesmo tempo não parecia ser...
Os contornos eram teus, o cabelo cuidado, os lábios rosados,
Mas a tez tão pálida e quieta voltou-me a fazer duvidar...
Senti tonturas e uma espécie de ausência de peso,
Talvez pelo cheiro forte e adocicado das flores misturado com o das velas que ardiam em desespero,
O olhar dos outros que me olhavam...
Irreal...Realidade...
Mais próximo de ti toquei-te delicadamente no rosto...
E consegui ver-te sorrir, és tu sim,
Disse eu para ti num tom que só tu poderias ouvir...
O teu ombro molhava-se nas minhas lágrimas que eu tinha proibido de se fazerem sentir...
Senti tristeza, amargura, revolta e raiva...
Como foste capaz de ir embora sem mim?
Que é de ti?
Que será de mim?
Tinhas tanto para viver...
Porque não morri eu em vez de ti?
Assim ficavas tu,
Que poderias sorrir por mim,
Dançar por mim,
Pensar em mim...

Venço a distancia que me impede de voltar a sentir os teus lábios,
Uma ultima vez,
Eternamente...

Enederian



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