
DISPLICENTE
Data 29/07/2020 03:08:53 | Tópico: Poemas
| . . . Tenho-te imagem em silhueta cristalizada, posando para mim em perspectiva sombreada. O lado oculto do teu rosto como a face outra da lua, não reconheço mais; os espectros de tons vivos... Auras amenas que emanavam de ti; acinzentaram... Cansei-me de olhar vago, despeço-me de ti agora, trespassando o teu corpo antes de projetar-me no infinito, horizontalizado pela linha do céu com o mar. No azul esverdeado, distraído, brinco no vai e vem da espuma, fazendo-me e desfazendo-me no balanço sinuoso da maré. Com o indicador, desenhos harmoniosos, telas imaginárias de neptunos, sereias, monstros marinhos, misturando-se com as gentes de corpos bronzeados que se movem num caminhar sonolento de lá pra cá nas areia douradas de Ipanema... Aquietei o violão pra passar o tempo vagabundeando com o pensamento... Me pus a rabiscar na úmida areia à beira mar... Tudo tão real, e ao mesmo tempo uma irrealidade dura demais... Fim de verão e meu olhar permanece perdido nos contornos da tua face, ainda oculta como a da lua; displicente e só. Tudo tão real e ao mesmo tempo; uma irrealidade dura demais... Minhas mãos não te tocando mais como ainda toca o meu olhar, o meu pensar, o meu querer... E do alto do seu abrigo, rico ninho avarandado, tu, tal qual ave rara, indiferente e só, fugindo do olho no olho, do meu amor, de costas ao poema... Nem ao menos se deixar abraçar pelo mar, ou pelas asas da minha poesia... Sempre assim, displicente ao meu simplório cantar.
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