Encantador de Serpentes

Data 18/04/2008 08:18:47 | Tópico: Poemas -> Amor

Guardar-te as mãos
nas veias quentes de meu corpo
gardénias caudais d’astros em abstractos corpóreos de poemas.
Guardar-te, um a um, em todos os gestos
percorridos na pele
na flor
no versículo incluso dos sentidos.
Guardar-te agora em paisagens metafóricas
nas insígnias do assombro reconhecido
tubérculos
rebentos
pomos
frutos
poros
semente híbrida do que somos, do que fomos
hoje
ontem
e no outrora do sempre.
Amar-te longa e demoradamente
despida
das vaidades petulantes
das jactâncias vis da vida
domada a ti
na arte encantada de um encantador de serpentes.
Tomar-te meu
peixe em guelra sanguinária
cavalo ausente d’arreio, de estribo, de freio,
indómito a ti e ao mundo inteiro
éter luzente
volátil que seja combustível do meu ser.
Guardar-te
água em concha
sol em mar
ao fim da tarde. Em gestos repetidos e tão diferentes
de nós
d’ancoras
de ninfas
de faunos
de ceptros
e tridentes.
Cerrar o vento lá fora
e abrir guardas, janelas, aqui no linho alvo de um lençol.
Decair rosas do meu colo
no teu colo
em chuva
em fio
sedas puras às tuas mãos de doçura malevolente.
Lenta
lenta
lentamente…

Coalhar por fim
na regência astral do teu olhar em mim.



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