BALADA ODONTOLÓGICA

Data 18/04/2008 09:34:37 | Tópico: Poemas

"Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer."

- Carlos Drummond de Andrade -


não era lua nova
tão pouco minguante
não era lua cheia
e nem quarto-crescente
era uma lua louca
era uma lua insana
em cara porcelana
no céu da minha boca

voltei d'anestesia
acordei num rompante
e senti de repente
minh'arcada vazia
não tinha um só dente
motivo: - foi implante

implante? não - implantes
pois dente de verdade
nem sequer sobrou um só
não houve piedade
meu colar de pérolas
foi todo para o lixo
sem o mínimo de dó

doía-me a testa
em brasa estava o crânio
minhas gengivas eram
um jardim de titânio

o que dantes foi dente
agora é elemento
doendo no orçamento
e eu que me achava
ainda ser tão moço
senti o peso da idade
pesando no meu bolso

na parte superior
havia osso fraco
taxativo o doutor
foi logo me dizendo
- osso fortalece
mas inda leva meses
é coisa que acontece
agüenta que tem cura
não há razão pra tanto
o jeito por enquanto
é esta dentadura

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júlio, 16-04-08



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