A cabeça de touro
Data 24/09/2020 15:22:44 | Tópico: Poemas -> Reflexão
| Descobriu-se, certo dia, Em alguma parte ao norte Da península balcânica, Onde havia toda a sorte De gente da arqueologia, Objeto de alheio corte. Antiguidade: sofria a Peça corrosão galvânica.
Estava aparentemente Quebrado o ilustre tesouro; Mas notava-se que havia Uma cabeça de touro Na sua altura saliente. Sobre a cabeça do touro, Outra, mais inteligente, Inclinou a fronte esguia.
Após longa reflexão Entregou o objeto à ciência: Em algures na Panônia Houvera a existência De uma antiga religião Que prestava reverência E ritos de devoção Ao touro, o Deus da colônia.
Somadas copiosas provas, Um museu catalogou E etiquetou a relíquia. Foi da Argentina à Moscou, Exposta como a mais nova Peça archéologie-nouveau. Enfim, na aclamada Mostra Britânica de Arqueologia,
Encarou, curioso, a peça, Um arqueólogo inglês. Tão logo suas mãos tocaram O objeto, ele, com agudez, Afirmou que aquilo era Mero utensílio burguês: Um abridor de conservas Produzido em Birmingham,
Que chegara aos Balcãs Pelo descuido de algum Arqueólogo faminto. Eis o final incomum Da tal peça charlatã: Abrindo latas de atum Numa cozinha alemã Suja e sem qualquer requinto.
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