
Vida Provisória
Data 16/12/2020 17:14:25 | Tópico: Poemas
| Nasço todas as noites nas luzes naufragadas em águas límpidas Nesta terra amarga de lamentos, dezembro não é mais tão vivo A noite avança e a lua se perde lenta em seu reflexo nos canais Escondi meu velho coração detrás de muros que eu fiz erguer Para ter a certeza que já estás demasiadamente longe de tudo Que não mais te verei nas planuras onde soprou o nosso vento Que balançava os cachos de teus cabelos e as flores do campo Afastei-me de todos amigos para ficar só, somente recordar-te Afinal, estás mais longe que a lua que nasce, mas te sinto aqui No ar o cheiro verde do musgo e sobre as pedras ecoa o trotar Dos cavalos selvagens, com longas crinas oblíquas tremulantes O vento esmaece os vestígios de seus cascos deixadas no areal Sou uma alma antiga, eivada de rancores cinzentos mal digestos Deito as sílabas por folhas despenhadas sobre a relva do prado Onde germinam os poemas desenraizados das sombras lúgubres Nesta minha vida provisória, sou sobrevivente, sou eco da terra
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