
Caverna
Data 30/12/2020 04:13:22 | Tópico: Poemas
| Derramo sobre as linhas frases tecidas de inquietos traços supérfluos Arde em mim essa tal agonia de que sou presa nestas noites solitárias. Esse calor interior que arde como as pedras crestadas sob o sol a pino Resulta de toda a frustração e carência que me preenchem de solidão
A noite avança trazendo as horas de calmaria e rareando as figurações As ruas se desertam e o silêncio toma os espaços como rendas no tear O azul noturno que a tudo absorve emudece os pássaros a se recolher Que caminham para seu sono entre árvores, ensimesmados de mistérios
Nessas horas tranquilas afogo minhas piores memórias no esquecimento Neste reino em que os répteis são os generais não há serenidade, só dor Só um vácuo interminável em que meus sonhos flutuam em estagnação Só sombras, sem rastros, omissas na densidade da noite ausente de luar
No paradoxo desse silêncio as nuvens em tropel anunciam a tempestade A vida só observa desta caverna o fluir da existência no mundo exterior Ciente que não há nenhum paraíso ao qual rumar quando tudo se acabar Nenhuma lembrança sobre um amor realizado apenas carinhos ignorados.
Desamarro as pontas do fio do tempo e tudo se volatiliza, desincorpora O poeta recolhido em seu cativeiro tem no cru poema seu único alento E é assim que se move na escuridão, de esperança, sem planos traçados Onde o princípio e o fim são os mesmos farsantes, na frieza vã do metal
O pássaro, enquanto dorme, sonha com o voo sobre uma terra renovada Se concentra em seu corpo que flutua na sombra com ritmo e harmonia Eu, por meu turno neste arremedo de existência, vago entre as palavras E sem abdicar de mim, me renovar como folhas de árvore após o inverno
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