Liberto

Data 07/01/2021 20:14:56 | Tópico: Poemas








Liberto



Quantas vezes, preso me sinto liberto,
Doí-me no peito a dor que evito, decreto
Ao rosto fechar os portos e adormeço,
Não fosse o sonho estaria condenado,

E o silêncio sem sossego argumenta,
Aumenta, cola-se-me ao céu da boca,
Ao pensamento, algema-me, comum
Réu, aflige-me e afronta-me, ata-me

Cinquenta vezes cem, me sinto liberto,
Completa-me o seguir o céu, a grade
Confunde-me e a rua acabou por parar,
Solidão é avença, do mundo ao fim

Nada fica incompleto e o futuro está
Aí, sem mácula sem esquema, se deixa
Ver e afinal é, será comum o tempo
Sonhado em que me sonho, sonhei…

Sonhei-me preso, liberto pro que ainda
Não hei, despert’a dor que tanto desprezo
E deixo de sentir como me prendo preso
Às sensações que crio sem quê, como

Quantas vezes penso na angústia
Que seria sentir pouco, igual aos loucos,
Que serei algum dia, poucos, aos poucos
Sigo o céu e sofro de olhos fechados,

Pois que abertos adormeço, perco os
Sentidos e a razão que não é a fingir,
Embora não a conheça, nunca a vi,
Incomoda-me o dormir e ao ouvido

Mouco, desentendido e ingrato, sigo
A opinião da maioria, os desejos mingos,
Por comuns que pareçam não erram,
Dominam-nos, prendem-nos, colam-se

E continuam uma felicidade contígua,
Baça, herbácea, que se fixa nos ossos, nos fios
Grossos dos cabelos como se fosse desdém,
Por decreto lei e eu, preso sonhando-me

Liberto, rendo-me …










Jorge Santos (07 Janeiro 2021)



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