Deixemos descer à vala, o corpo que em vão nos deram ...
Data 03/02/2021 21:10:35 | Tópico: Poemas
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Deixemos descer à vala, O corpo que nos deram, Deixai-o ir, com as coisas Que se quebram, reles, usuais
E os argumentos enterram-se, Deixai-me sombrio, morrer na terra, Como é natural, numa concha Onde a areia se infiltra, na campa
Se entranha, velada estranha, Igual toda a espécie humana, Deixem-me descer comum à vala, Ridículo, mesquinho, profano,
Infra-humano sem futuro, Falso Profeta, obscuro e cigano Réu d’minha própria fama, Como manda a lei e a norma
Nada é nosso, nem o corpo, Mas tem de haver alma, O corpo é uma montra, Fixo-me a ver se o vejo,
Fico-me por tudo isso, cinza O que não tenho, o que era físico Grotesco mundano, insignificante Cor de sangue, excepto
O que não nos deram, Me revela um absurdo que não sei explicar, E uma maneira especial, invertida de Mágoa, mudas criaturas me velam,
Ilógicas janelas estendem-se em silêncio Sobre campos, enterrados Órgãos humanos, fálicos olhos, órfãos De mãe e pai, naturais os sonhos,
A razão e o conhecimento, o instinto Não morrem, de modo algum se enterram, Deixem meu corpo descer à vala, comum Como os simples, donde jamais me erguerei
Em vão, de novo …
Jorge Santos (03 Fevereiro 2021)
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