
Desalento
Data 13/02/2021 01:30:55 | Tópico: Poemas
| As noites vem e vão e eu permaneço semimorto em minha solidão No céu de parcas estrelas incertas não antevê nenhuma chegada O negrume vaticina que esta dor será a minha inefável companhia A chuva exalta as ausências desta vida, qual uma tristeza líquida
Vejo o gris de falsas conjecturas se sobrepor às cores da realidade Um oceano de impossibilidades que me separa de um outro destino Invento um colo imaginário a me resgatar dos suplícios do degredo Em qual silêncio meu coração dilacerado se fez pequeno e oprimido
Sob o jugo do carrasco que acorrentou min’alma antes indomada Tornando o ruflar destas asas inquietas em negras raízes silentes Ora roubando o verso que diz do meu amor em rimas tão tênues Ora em brados enfurecidos onde só resta uma poesia cabisbaixa
A palavra cedeu ao amargo e o que outrora era árvore frondosa Hoje é uma acha de lenha, cativa, atada a seus próprios enganos Nesses gritos que rasgaram meu peito e não calam um só instante Que resultam versos sem sentido, frases insanas, ferinas e cruéis
Nos porões do meu ser, minhas idiossincrasias definiram meus atos De tantos desvarios e desencantos, de tantas lágrimas derramadas Mais tantas outras omitidas, forjaram minha têmpera contra o mal Mas cada resposta que recebo, é uma nova pergunta irrespondida
Sigo nesta alameda de tumbas onde jaz minha olvidada esperança A qual, sonho eu, possa estar simplesmente adormecida e intocada No crença que assim disperse os fragmentos de toda dor que vivi Para se erguer em meio a um campo de trigo num outono a porvir
Queria acolher teu sorriso e te ofertar uma aurora que não tenho, Mas que eu a esboço como se tivesse e não fosse apenas um sonho
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