Noturno 6.1
Data 26/02/2021 23:44:36 | Tópico: Poemas
| Era um domingo que a melancolia nos faz morada E as nuvens se espalhavam como um mar nos céus Eu sentava numa velha poltrona na sala de jantar No ar havia um rumor, como aquele de mudança Coisas arrastadas de lá pra cá, no andar de cima Eu que apesar de criança já vira muita mudança Só olhava pela janela a chuva que começara cair Aos poucos seu cheiro doce veio preencher o ar E o som dos pingos romper o silêncio dessa tarde
Nestas noites que uma solidão trôpega toma o ar O chiar da chuva na árvore inda vive na memória Na essência das águas vivas como primeiro alento Lembrança imaculada que afasta ocultas mágoas Ali a água fertilizava uma imaginação ainda verde Forjando ideias no escuro súbito daquelas nuvens A essência do que me move a replicar a natureza. Hoje as janelas se abrem a outros mares e tempos Mais duros e crespos, cheios de abismos a vencer
Os domingos não têm mais cheiro úmido de mato Tão só a memória perpetua e recompõe a fábula Do menino que inda vive em mim a olhar a janela Longe do conflito íntimo e surdo dos contrários Entre arar a terra ou cavar seu próprio sepulcro Ser pássaro de asas abertas ou pilar de concreto O que é frágil e transitório ou o que se eterniza São as chagas da luta contra as dúvidas dos dias Meu menino resiste na semente, alma e coração
Na faina cotidiana solitária bato as asas em segredo Para que cada caminho me reconduza à paz perdida
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