Noturno 6.3

Data 27/02/2021 03:32:30 | Tópico: Poemas

Antigos arreios de medo se atrelam à ilusão de novos dias
De pedaços se faz a tarde que de ausências sopra na brisa
A contar segredos como as águas do rio os revelam às pedras
As nuvens de chuva encobrem as auroras que se perderam
O medo vibra, ainda que se deseje que não faça residência
E o amor se esforça, busca inglório reinventar a esperança
Mas há um quê infeliz, dor insana de estrela que não brilha
Porém a estrada é longa e na solidão alongamos ainda mais
Não há amor, o céu cinza da agonia nos remete ao silêncio
Tantos anseios se esvaem no vazio aflitivo que os consome
As palavras se oxidam na espera, a cada giro dos ponteiros
Como reviver-me se o desejo míngua sem o favor do tempo
Na noite tardia em que a memória é singular companheira
E que todas as minhas idades se refletem nessas memórias
Pertenço ao silêncio dos matizes que agoniam meu coração
Na distância dura e áspera qual um non sense imperdoável
Sou viageiro solitário e cúmplice do silêncio nessa jornada
Em que o amor esse pássaro azul, breve e passageiro, canta
E se move pela paixão como animal noturno meio ao sonho
Para deixar suas marcas, trilha e sombra no pó do caminho
Na encanecida memória da noite e suas estrelas deserdadas
Construo o poema em seu febril pulsar, tão urgente e frágil
Sobre os ombros pesam os minutos a chegar o dia seguinte
Saudade, ave cinza que de-há-anos se aninhou no meu peito
Sob o lume dos castiçais a se refletir nas ruas tristes do cais
As palavras são a voz escondida nos territórios da alvorada
Que, avidamente, se almeja alfombras mais leves para a alma
O banco de praia vazio, insciente dos transeuntes distraídos
Inda exala o perfume que se perdeu em uma tarde qualquer
O vento de abril anuncia o outono chegar ao sul do equador



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