A nossa natureza ininterpretável.
Data 11/03/2021 13:33:03 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Quando somos imensos, profundos, misteriosos e inspiramos tanto temor aos outros como um céu noturno, percebemos que a nossa natureza será sempre amplamente ininterpretável.
Se deixássemos de interferir com estas vastas potencialidades da alma, seria impossível prever, o que poderíamos levar a cabo e quanta vida fluiria através de nós.
A alma gera uma individualidade de raízes profundas, não surge voluntariamente nem é moldada e apoiada de uma maneira intencional e consciente.
A alma surge misteriosamente com raízes na eternidade e é ilimitada.
O poder desta individualidade não é forçado mas emana da sua própria individualidade e veracidade intrínsecas.
Quando vislumbramos a alma de outra pessoa observamo-la em aspectos que ela própria pode desconhecer.
Que as nossas almas possam esculpir as nossas vidas diariamente, pois não é fácil viver com o poder e o mistério de outra personalidade com alma.
Por este motivo, não podemos e nem devemos depender das promessas de outra alma uma vez que as almas não estão dispostas a sujeitar-se.
Ninguém entende tudo o que está a passar-se na alma, como pode alguém que nos é próximo, cuja vida está seriamente envolvida com a nossa, compreendê-la ainda que remotamente?
A única solução que conheço e me parece mais coerente é que se respeite a alma se reconheça o mistério inelutavelmente contido numa vida dotada de alma e ambos valorizem essa imprevisibilidade.
Só uma atitude grandiosa pode desencadear uma mudança radical de valores. Normalmente e espontaneamente, honramos os compromissos, as promessas, as fidelidades e os hábitos.
Porém quando estes valores são infringidos, ficamos indignados e queixamo-nos de um defeito na relação.
Por outro lado, se tivermos em mente um quadro mais amplo e honrarmos a tendência que a alma tem de se mover misteriosamente, podemos compreender que cada ação imprevisível que provém dela, possui um efeito positivo numa relação.
Tudo isto exige maior adaptação e concessões que vão possibilitar um aprofundamento constante e permanente da relação com bases para esse apego na alma, em vez de na vontade pessoal.
Além disso, a obstinação pessoal está entrelaçada por norma com o medo e a manipulação, criando um terreno pouco aprofundado para que se possa estabelecer a intimidade.
Um outro aspecto de uma relação com alma é que ela é dotada de originalidade e espontaneidade. Cada relação possui uma alma muito sua, que acaba por conferir à união, muitas qualidades da alma que incluem a individualidade de cada um.
Não revela por isso qualquer tendência a cumprir regras e expectativas.
Terão com certeza altos e baixos, e algumas perigosas Inclinações para a dissolução, mas por outro lado os seus aprofundados e enraizados alicerces para se manter.
Do meu livro a editar: "Olhos que trespassam o coração"
(Alice Vaz De Barros)
|
|