XXI O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha
Data 15/03/2021 04:08:51 | Tópico: Épicos
| XXI - Vigésimo primeiro episódio que trata da grande aventura e preciosa conquista do elmo de Mambrino, com outras coisas acontecidas ao nosso invencível cavaleiro
Cavaleiro e escudeiro indo por um matagal adentraram de repente em uma zona rural encontrando no trajeto um extenso milharal
Quando entraram ali procurando por atalho avistaram de passagem um prosaico espantalho que era só um boneco costurado com retalho
E Quixote o apontando disse a seu escudeiro: - Não podemos prosseguir sem examinar primeiro aquele velho estafermo de treinar um cavaleiro
Sancho Pança intrigado respondeu a seu patrão: - Isto ali é um boneco de remendo de algodão feito só pra espantar as aves da plantação
- Eu terei que repetir que o seu conhecimento sobre a lida campeira é debalde num momento em que o tema das armas novamente toma acento?
- Pois ali no estafermo que deixaram escondido você vê um espantalho só porque é parecido esquecendo que no tema sou bastante instruído
- Pois você tem o dever uma vez que é escudeiro de fazer adestramento como faz um cavaleiro ainda que não alcance o primor de um lanceiro
- Na vara do estafermo vou amarrar a rodela Você monta em Rocinante e avança contra ela como se fosse Amadís defendendo uma donzela
E depois que seu escudo foi no boneco amarrado Dom Quixote o carregou para o amplo descampado que pra ele era o lugar onde tinha sido usado
Desejando só brincar Sancho a tudo aceitou Como se fosse lanceiro em Rocinante montou e a lança de taquara no espantalho mirou
Foi ali que o escudeiro imitando Dom Quixote deu a carga esquecendo já não ser um rapazote e gritou se aprumando: - Sou agora Lancelote!
Com a lança apontando pra sua sorte ou azar bem no meio do escudo conseguiu ele acertar e com a força do golpe fez o boneco rodar
O espantalho girando desferiu de supetão uma varada em Sancho que deixando um vergão fez o mesmo desmontar caindo bambo no chão
Quixote foi acudir o escudeiro estirado dizendo que o revide do boneco era esperado e ali mesmo no chão Sancho foi elogiado
O que Sancho retrucou tem o grau do desatino de um longo praguejar o qual repetir declino pois teria que o fazer só em verso fescenino
O leitor mais exigente que procure nos relatos do cronista Benengeli uma apuração dos fatos feita com maior rigor em impressos correlatos
Sancho Pança pra poder da queda ir recobrando precisou ficar sentado um momento descansando e os dois aproveitaram esse tempo conversando
Permeando a conversa com ditados populares coisa que o escudeiro conhecia aos milhares falaram de cavaleiros e assuntos similares
Sancho Pança descobriu que Dulcinéia, a rainha, era Aldonza de Lourenço com quem parentesco tinha sendo ela a concunhada do avô de uma vizinha
Disse ele que na vila onde era conhecida era simples porcariça que só andava fedida trabalhando na pocilga com os porcos entretida
Dom Quixote na defesa de Aldonza ou Dulcinéia disse que ela seria pra sempre a sua tetéia comparando a sua musa com a grácil Galatéia:
- Pois vivia numa ilha um monarca escultor que no seu belo jardim trabalhava com ardor Todo o povo conhecia seu trabalho e valor
- A não ter uma esposa já estava decidido que só damas indecentes o queriam por marido mas tiveram todas elas recusado seu pedido
- E fazendo a escultura de uma linda donzela mesmo sem ter uma dama para ser modelo dela percebeu que estava ali a sua obra mais bela
- E a deusa Afrodite adentrando seu jardim vendo tanta perfeição na donzela de marfim já sabia que na ilha não havia dama assim
- E ficando Afrodite nesta hora comovida desejando dar ao rei a esposa pretendida fez então uma mulher da imagem esculpida
- O rei Pigmaleão no sonho realizado com a bela Galatéia ditoso ficou casado Pela sua compostura ele foi recompensado
- Os poetas são assim feito um Pigmaleão Quando elegem sua musa pra lhes dar inspiração é a quem vão dedicar versos cheios de paixão
- E assim vejo Aldonza virtuosa e requintada que tem uma louçania só com fadas comparada e pra mim sempre será minha Dulcinéia amada
Essa Aldonza que conheço apenas de ouvir falar é a princesa perfeita a quem sempre irei amar e meus feitos valorosos sempre a ela dedicar...
Sancho Pança escutando disse que tinha 1 porém pois mesmo a sua patroa a quem mais queria bem tinha suas qualidades e seus defeitos também
- É fácil amar a princesa que nunca lhe dá ensejos de saber se ela existe tal e qual os seus desejos e nem possa transformar seus suspiros em bocejos
Sancho Pança sugeriu a Quixote uma idéia de irem ao povoado conhecer a Dulcinéia pra saber se ela seria mesmo a sua Galatéia
Estando nestas conversas começou um chuvisqueiro Montado no seu jumento apareceu um barbeiro que distraído subia na vereda do outeiro
Pra poder se proteger da chuvinha que caía o barbeiro colocou na cabeça uma bacia e montado num jumento o barranco ele subia
E Quixote o avistando disse a seu escudeiro: - Sancho Pança, veja que vem subindo um cavaleiro cavalgando num corcel que galopa bem ligeiro
Sancho Pança intrigado disse sem acanhamento: - Eu só vejo um cidadão que montado num jumento vem subindo na colina com um trote meio lento
Mas Quixote respondeu já montando no eqüino: - É mais uma aventura que nos trouxe o destino O guerreiro na cabeça tem o elmo de Mambrino!
Dizendo isto Quixote seu cavalo esporeou Na descida do outeiro resoluto disparou e pra cima do sujeito com a lança avançou
Rocinante que descia galopando no embalo progredia na ladeira com tropeço e resvalo Dom Quixote confiante foi gritando no cavalo:
- Escute o que eu digo cavaleiro atrevido! Me entregue o morrião que a mim só é devido ou vai conhecer a lança dum guerreiro aguerrido!
Sem ao menos entender o que estava acontecendo o barbeiro do jumento bem ligeiro foi descendo e derrubando a bacia para o mato foi correndo
Dom Quixote satisfeito vendo a bacia no chão disse para o escudeiro recolher seu "morrião" que depois de um exame deu a dita a seu patrão
- Se um dia retornar para minha parentela vou limpar esta bacia com estopa ou flanela pois parece muito boa de fazer a barba nela
- Pois foi o mago Frestão que com a sua magia fez o elmo de Mambrino parecer uma bacia mas é como um bacinete que tem a sua valia...
- Acontece que isto aí nunca foi um capacete! Eu conheço uma bacia e conheço um bacinete A não ser que isto seja talvez um bacianete!
E os dois se revezando entre falante e ouvinte as suas próprias idéias defendiam sem acinte Vamos ver como ficou no episódio seguinte
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