Nestes dias tão invulgares meu olhar fita o mundo à volta Constato que nada é como parece ser, até música é outra Ainda assim, não desprezo nada, dou bom dia ao mendigo Faço se mover o poeta que reside por baixo da minha pele Pois grava as coisas que eu vejo para sacudir meus sonhos Vejo pessoas, flores, almas, sons e movimentos à marginalia Aqui seguimos pendurados na terra, nossa casa destelhada A rua crepita ao passar dessas consciências ou à sua falta Meus passos ecoam entre as paredes de meu quarto vazio Não há consolo para os heróis vencidos, apenas desapreço As meninas não sonham mais com príncipes, antes dragões Não consigo imaginar que esse fosse o desígnio da criação São tempos que parecem bem mais articulados com o diabo Não sinto mais o perfume dos jasmins em todo entardecer O gato se esgueira pelos muros com seus olhos de mistério A pena mergulhada no tinteiro sobre a mesa, a folha vazia