Estranho

Data 06/04/2021 02:53:13 | Tópico: Poemas

Pensei em me afastar daqui, mas cheguei a uma conclusão
Realmente não me importa se você existe, se vive ou morre
Minhas palavras são só um sussurro, sua surdez, um grito
Eu posso fazer você sentir, mas eu não posso fazê-lo pensar
Você que vive pela sarjeta, seu sentimento escorre pelo ralo
Enquanto eu cavalgo pelos campos, sua busca é a agressão
Se acha sábio, mas não sabe o que é ter um sentimento bom
Não sabe o que é ter amigos e o prazer de uma palavra boa
Sua cabeça é intransigente e parece ser dura como um tijolo
As suas virtudes, como castelos de areia, são todas varridas
Com a chegada da maré, sua moral peculiar causa espanto
Entanto a última onda revela que nada há por baixo da capa
Seus sapatos, novos por cima, têm as solas gastas e furadas
Pobre coitado que se acha um sábio, mas não soube amar
Olha-me com inveja e pensa que agredir torna-o algo maior
Eu sou aquele sonho ruim que você acabou de ter esta noite
Eu sou o espelho do que você queria ter sido, só que isso foi
Perdeu tempo e não pode voltar aos anos da sua juventude
E você balança sua cabeça, sem entender o quanto é ruim
Puxaram o laço e as cortinas negras do futuro já desceram
Mas não ocultam a verdade, dura verdade de quem você é
Veja que cantam minha canção. Veja lá! Outro filho nasceu
O novo poema se junta a outros quatrocentos e mais virão
Enquanto você agradece por ainda não se mijar às noites
O tempo não te fez mais homem, somente um velho infeliz
Quem não pôde aprender a graça de como cantar na chuva
O tempo também passou por mim e me fez poeta e pintor
Curou minhas feridas, fez iluminar as sombras desta vida
Enquanto uma débil luz mal clareia o coração cheio de ódio
A lareira em minha casa brilha, acesa e meu amor espera
Seu calor me agasalha nas afiadas e gélidas manhãs do dia
E por ela é que são meus dias. Nós nos temos, isso te dói?
O poeta ergue sua pena e ergue sua fortaleza junto ao mar
Sendo feita de rochas, desafia a maré tardia a arrastá-la
Você segue seu lamento, ofende para se esconder do vazio
Acha-se o máximo, o sábio, mas não tem ninguém ou amor
Precisa agredir para fazer que notem sua mísera presença
Quando afinal meu rio se dissolver no grande mar do existir
Terei deixado um legado, que meus filhos poderão lembrar
Não serei lembrado como aquele que todos preferem calado
E você aí agredindo, achando mais valia parecer do que ser.




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