É preciso dizer

Data 16/05/2021 14:46:53 | Tópico: Prosas Poéticas

Quantas mais pessoas próximas e também figuras públicas, de sempre, desaparecem, mais certeza de que a mortalidade está na minha vida, bem presente, tal como a perda.
Dizer que não tenho medo, seria duma hipocrisia gigante.
Adoro viver.
Gosto do som, da cor, do vento, da chuva, do sol e da lua.
Do mar.
Gosto da descoberta. Do conhecimento. Da emoção. Da alegria de gargalhar. De comunicar. De respirar.
De me dar.
Gosto de pessoas. Gosto que gostem de mim.
Quantas mais vicissitudes mais o desejo de as ultrapassar.
Mais coragem.
Mais triagem. Mais tolerância. Mais crédito. Mais objectivos.
Menos julgamento. Menos desconfiança.
Dezassete meses isolada, sob ameaça pessoal, familiar, mundial, de doença e finitude permitiram-me escutar o tempo.
Percebê-lo. Perceber-me.
Saber o que fazer com ele.
Ter certezas menos incertas. Inteligência emocional.
Não quero ser injusta, desconfiada, precipitada, frustrada, ofensiva, tóxica.
Quanto mais perdas mais desejos de estar em sintonia com quem gosto.
Mimar. Dar colo. Aplaudir. Parabenizar. Respeitar.
Se 17 meses de pandemia me tivessem tornado amarga, injusta, desconfiada, egoísta, tóxica, o Universo não teria investido em mim para me tornar melhor.
E o sentido da vida não faria sentido.
É preciso ouvir o tempo.
É preciso ouvir-nos.


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