Nature boy

Data 10/06/2021 21:44:43 | Tópico: Textos

Deitado no escuro, reflito sobre a vida. Hoje foi um dia longo e ainda não acabou. Meu gato dorme em cima do cobertor e eu encosto meus pés no seu corpo quentinho. Ele parece um anjinho dormindo. Me encho de amor. Por um momento, me esqueço das minhas aflições e só quero parar o tempo. Hoje tomei a primeira dose da vacina que pode me salvar. Eu nem sabia ao certo se queria ser salvo. As vezes, eu sinto que preciso dar continuidade às coisas. Talvez seja só por isso que eu ainda esteja vivo. Mas quando foi que eu parei de sentir tesão? Parece que tudo é tão desfavorável. Meu gato se chama Zelda. Até pouco tempo atrás eu achava que era fêmea, então dei o nome da protagonista de uma franquia de jogos que sou fã. Nome de princesa. Agora, eu tenho que fingir que nao sei que é macho para minha mãe não implicar com o nome do qual eu já me acostumei (e não pretendo mudar). Antigamente, eu escrevia mais, sabe. De uma maneira enigmática, difícil e quase inteligível. Mas eu tinha tanto orgulho das coisas que escrevia. Tinha tanta referência, tanto entusiasmo, tanta paixão... Hoje eu me sinto medíocre e envergonhado. Me sinto comum e descartável. De certa maneira, isso me conforta. Sinto menos peso e me cobro menos. Mas sinto falta do tesão. Da loucura da juventude destemida. Do entusiasmo pela busca por conhecimento e da coragem de me arriscar. Eu me acomodei nessa rotina pacata e sem ambição. Mas é que está tão confortável aqui nessa posição. Meu gato continua dormindo. Eu espero que durante a madrugada ele não acorde porque ele tem muita energia. Será que ele também sonha? Será que quando ele for mais velho, ele vai ser covarde e passivo como eu? Será esse o rumo natural de cada ser vivo?


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