PROSEANDO COM MAMÃE

Data 10/07/2021 01:09:54 | Tópico: Prosas Poéticas



Mãe, deitado aqui no seu colo, como se ainda fosse o seu menino franzino,
faz-me lembrar de quando sempre voltávamos daqueles passeios matinais.
Apenas caminhávamos sem pressa. Tua mão balançando próxima ao meu rosto,
cheirava a ‘água de rosas’, macia, segurando ternamente a minha tão miúda.

Era uma coisa tão boa de sentir, o frescor, eu que ainda não sabia o que era amor.
Sorrio; pois aqueles seus gestos marcaram, sei hoje o que representam; disponibilidade,
carinho, proteção, segurança, solidariedade. Nunca senti faltar esse amor maternal.
Expressões de amor dadas não só momentaneamente, mas a todo tempo, todo...

Acredito que vêm talvez desde quando ainda atados fomos pelo cordão umbilical.
Disse-me que eu agitava-me, pulava dentro da sua barriga quando ouvia sua voz.
Acredito! Pois ainda hoje meu coração pula forte quando tenho sua presença, mãe.
Lembro quando de um perigo eminente, sua voz de alerta soava num tom diferente.

E refeito do sobressalto, suor frio de alivio, ficava ecoando como se uma terna canção
indescritível, suave como uma brisa do mar. Juro que saído da boca de uma santa.
Igual aquela, que ficava no altar do meio, e que parecia cantar na missa dominical.
Via-a, quando me levavas a igreja. Lá estava ela, inerte. Menos o olhar; seguia-me.

Custei a acreditar em você, quando me disseste que ela era mãe do homem na cruz.
Abominava-o olhá-lo, assim; pregado, ensanguentado, morto. Eu não gostava de ir lá,
mas; penduraram-no justamente a direita do púlpito, perto da pia de água benta.
Logo que se ultrapassa a porta da entrada principal da matriz. Deus está lá até hoje.

Descíamos as escadarias. Eu, de dois em dois degraus, brincando, correndo pela ladeira,
e para eu poder esquecer aquele Senhor Morto, ias contando histórias engraçadas.
Ah! Mãe! A da galinha que escondia seus pintinhos debaixo das asas, para protegê-los...
Desculpe-me! Não consigo me lembrar se era; da raposa, do lobo mau, ou do Boitatá.

Adorava escutar as tantas outras, eram como se asas me afagando, sentia-me até aquecido.
Da natureza, me fez acreditar que os girinos do lago da praça transformavam-se em rãs,
que as casuarinas não podiam crescer próximas ao poço, pois bebiam toda a água da terra,
e que o sol e as estrelas nunca apagavam, eram os nossos olhos que se fechavam pra dormir.

O tempo passou muito depressa, não é mãe, mas foi bom a gente ainda poder conversar...
Se a senhora pensava que eu não me lembrava disso... errou, mas tens todo o direito...
Já é tarde mãe!... Vou ter que ir embora agora! Peço sua benção!

Mãe
Mãe!
Olha só que lindo!...
Ela dormiu!


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