
A descoberta da poesia
Data 02/08/2021 16:38:09 | Tópico: Poemas
| Assim um dia, descobri que posso ver o que a foto não revela A residir no horizonte interno, invernal e oculto pela pálpebra Tantos navios naufragados, deserdados neste poço de solidão Ventos avaros, de um verão já distante, solenes como ícones
Assim um dia, descobri que o mistério maior que eu já escondi São fragmentos olvidados de mim, dos antigos silêncios carmim Dos perfumes ociosos de jasmim, por todo o pecado absolvido Se estivermos juntos e nossa sombra residir uma só paisagem
Assim um dia, descobri que não se conhece da vida pela janela Mas a imergir o império das esperas melancólicas dos domingos Perscrutar nos porões que se velaram as mais densas tristezas Ouvir as vozes anônimas da verdade que desafia nossa higidez
Assim um dia, descobri o poema, amigo ora sublime, ora cruel A retratar o martírio de quem se abandonou a sonhar o amor Em vocábulos ceifados do peito, ancorados na folha de papel Cristalinos como as auroras ou sombrios quais noites sem luar
O poema dilacera os mistérios da linguagem, santa ou meretriz Fere de morte a inércia da língua e salta da página ao coração
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