Rasgo o véu de um novo tempo

Data 22/08/2021 11:54:13 | Tópico: Poemas -> Amor

Aonde anda o tempo em que o amor não era amor,
sem uma carta escrita, onde o olhar embevecido
se perdia no ser amado e as promessas se elevavam
no amor que crescia?

As mãos dadas, bastavam para desfrutar o momento,
onde paira o tempo antigo, que tempo é este que mudou
os gestos e vestiu de desventura o caminho?

Já não sinto o sabor do odor do amor no respirar dos dias,
nem o olhar enamorado dos amantes na inspiração
do aroma inebriante dos sentidos, num amor apaixonado
e desmedido.

Exalo o perfume do tempo, como se as memórias
ressuscitassem a tempo o mesmo perfume,
dentro do sorriso de todos os olhares do amor, para respirar..

Bebo sofregamente a imensidão do tempo em que o amor se expandia,
recuso-me a aceitar os novos e desprendidos tempos,
em que os sentidos são vontades desgovernadas, e a ausência
do amor é como um punhal que dilacera a alma.

Rasgo a indignação, para mergulhar fora de todas as ausências,
sorvo as prioridades e sinto a primazia do amor envolver-me
em braços fortes.

Ainda sinto o travo doce na distância, o batuque do coração
à espera de uma carta disparar ao som de cada palavra,
as mãos suadas a cada chegada e a saudade gritar a cada partida.

E é tudo tão vazio, tempo vulgar este sem o rubor da inocência,
rasgo o véu de um novo tempo, para sentir um novo grito e acreditar num novo tempo fora deste tempo inglório.

(Alice Vaz de Barros)


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