Cumpro com rigor a derrota
Data 31/08/2021 14:41:55 | Tópico: Poemas
|
Será minha a minha vida ou roubada A outros, às sombras, o destino que Me é dado acreditar e me cabe por Direito, cumpro com rigor a derrota,
Sigo o resto que a maré deixa de lodo e Sargaço na areia assim os meus sapatos E o musgo em carpete sob meus passos, Que o não os sinto nem ligam meus pés
Ao sub-mundo que me consente apenas Passadas pequenas em minúsculas, rústicas Pernas, inútil vida de sombras eternas Roubados os mortos, perpétuos e terrenos,
Será minha a minha vida ou é simples cinza Doutras vidas e de quem já viveu e a Água do meu lavatório, sangue e urina Que Orpheu verteu no covil do Demor-
-Gorgon. Diz-se que depois de extinta A cinza não gera fogo e a Acácia não Floresce de novo em tom amarelo sem Repousarem um inverno e as folhas, troncos
Nus e despidos, áridos como a minha paixão, Ardido meu peito e a crença que não sou eu, Nem me conheço, sendo minha a vida Esta não me foi dada, sou um arremedo
De outras, idas numa sucessão de sombras Tão sombrias quanto o escultor cego e surdo, Que as talhou num panteão que não é meu, Num poço profundo, longe dos crentes,
De todos e de tudo, não longe do “cu-do-céu”, Cumpro com rigor a derrota espiritual, digo adeus, Como cada homem que a vida deixa no caudal Dum rio sem barca, num mar sem margem …
Joel Matos ( 05 Dezembro 2020)
http://joel-matos.blogspot.com https://namastibet.wordpress.com
|
|