
O silvo da serpente
Data 31/08/2021 21:29:22 | Tópico: Poemas
| O poeta empunha a pena e recorta versos pelas paredes O artesão moldando em pedra silente, polindo as arestas As águas correm negras pelas sombras de sua ordenação Os cabelos lisos como ramagens das geométricas árvores Luzem sob a noite sinistra em que o vento se move lento No fundo toca blues e a guitarra declama seus lamentos Onde está o infinito, onde se guarda mistérios de ontem A ideia que se teve enquanto ouvia o silvo das serpentes O tempo é o engano e somos seus prisioneiros maquinais Primeiro a vertigem que se desdobra e precede a queda Os fardos que nos oprimem, nós mesmos os construímos Os espinhos são os que semeamos pelo chão do caminho Só o amor permanece tal núcleo de uma força imperiosa Que cada um de nós aspira para sentir que está vivendo Para esconder meio ao poema uma ou outra linha serena Sútil como o voo da ave, tão breve como a voz da amada Nessa arquitetura da palavra, sob o véu de tantas noites Venço abismos, cavalgo enigmas, vou ressurgir em branco Como a folha sem pauta que guardou meu fogo primitivo
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