
Supondo-me desperto
Data 21/09/2021 08:55:36 | Tópico: Poemas
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Despertei não sei do quê nem como, Se ainda durmo um tardio febril sonho Vestido a luto ou se desperto a mando De alguém morto há séculos e por falecer
Do mesmo mal que me anima ainda pés e tronco E em que nada combina com vida, nem ar aliado Ao movimento de sombra e luz que me perdure, Inútil a alma que, se existisse seria cinza, pó terra
Acabando por se perder na penumbra alada Desse neutro, negro outro lado, não sei porquê, Nem onde, mestiça margem d'outro homem, Vestida a manga, só no decote o tecido é curto,
A glote é minha assim como a de todos outros Sem glória, cantando "à-capella", o divino moribundo E o grotesco aplaudido por milhões de varejas, Maldigo o destino, coso-me ao último, tomara certo,
Não falsa ideia final, do inútil que sou, supondo-me Desperto, sem uso nem posto, confundo-me Com as pedras que acariciam meu estéril rosto E se alinham nas mãos e não no gesso do grotesco busto .
Jorge Santos 06/2019
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