As Marcas do Tempo

Data 30/09/2021 21:41:42 | Tópico: Poemas

A noite desaba sobre a terra e, no silêncio, o pio da coruja a anuncia
Nessas horas de sombra percebo que o tempo deixou marcas em mim
Reconheço que cada vez os dias se ausentam mais velozes e insípidos
Com menos espaço a lembranças nas horas saqueadas de meu futuro
Não mais tenho escutado as histórias que o mar segredou às conchas
Para, depois, depositá-las com suas espumas sobre as areias do existir

Sendo invisível o tempo é a ausência que avermelha a folha do bordo
O tempo não se soma, antes subtrai a si próprio pelas veredas da vida
Sei que assim a morte se faz mais próxima a inaugurar novo princípio
Atenção a quê espero manter declinando para seguir neste solilóquio
Que revela toda a solidão do poeta destacada dia a dia no calendário
Em aviar estratagemas para lidar com as almas cruéis e sorridentes

Busquei conduzir meus dias, entre caminhos com portas sem trancas
Onde todo segredo tem limites felizes e da estrada se vê o horizonte
Não levei minha vida à deriva mesmo passando por paisagens difíceis
Por silêncios vorazes nas horas que as sombras se debruçam na terra
Muitos se afastaram e o tempo ensinou que foi mais lucro que perda
Jamais forjei o aço dos espelhos que me refletem, com o metal do vil

De outro lado, não me seduz a ilusão de merecer louros da perfeição
Nem tampouco a falsa modéstia de negar aquilo que lutei a aprender
O tempo revelou que devemos ignorar os sorrisos oblíquos e amargos
Bem como olvidar as palavras que ocultam aqueles que nos preterem
Longe de ser despedida, este poema só constata as marcas do tempo
O fogo vivo que aflige o fraco, mas coroa o que na luta restou em pé

O tempo marca a todos: uns veem cicatrizes, a outros são só medalhas


Poema-título de meu segundo livro, atualmente em fase de diagramação. Quando pronto apresentarei aos nobres colegas.



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