portanto...

Data 14/10/2021 19:56:50 | Tópico: Poemas

Esta urbanização amanheceu hoje uma vez mais bonita, tão doentia quanto medonha. No bloco de fronte está a ambulância do INEM e um automóvel da Polícia de Segurança Pública parados rodeados por moradoras gordas e magras, mamalhudas e gaseantes gesticulando em voz alta mostrando toda a natureza apolínea, maliciosa, portanto, trágica do mundo. Há um cão preso numa varanda que não se cansa de ladrar e eu, que sou um camelo e queria tanto fugir encontro-me frustrado, detido num desejo quase obsessivo de fazer amor para lá do paraíso que representa a droga, e que é toda esta vista panorâmica horrivelmente bonita e decadente, de uma violência… humanamente bonita, infernal. As mulheres da minha idade e quantas mais novas têm uma aparência fiat stilo sport, os gatos são como o raio raios os partam, de um aspeto, económico, tão bonito e redondo quanto um andaime e a carne deitada às vespas. Ah… que saudade da alvura, da beleza intrínseca a uma rosa extraordinária, sã, e no entanto, as maçãs podres




ela deu-me um cavalo
e levou-me o canto
deu-me um pote de mel
levou metade das nuvens
deu-me rios interditos
que levou, deu-me água
levou-me a sede e ainda
vejo um pássaro perdido
e um arco-íris muito belo
ausente




crinas doiradas
natureza bonita
rosa sopro que
entraste sem pedir
e já tudo me cai e
que o meu amor
não dome essas tuas
cores indie mar cla
-ve de sol de
vida margarida




tudo vai desaparecendo
o visível não existe e não há
humanidade no coração
bandido





já não há mais amor
que formandos submissos
na vitrine combatendo
pelo prato de marisco bem
cozido em lume, triste





qual próximo
o feliz infeliz
ou o infeliz
feliz à mesa do pizza hut
bebendo a chuva
mais sozinho que a ponte
sobre o rio mondego
areado na tela enlameada
transmigrando o copo
à hora da morte

a poesia acabou






A vida tem mais sabor e encanto quando na companhia de uma flor exalamos o seu perfume de temperos, embriagantes e até, teatrais. A sensação é salvo seja, a plenitude. O aroma de uma flor amorosa, desde a ternura ao vinagre, desde a alvorada à noite, do mel à sensualidade corruptível e maravilhosa da sua pele delicada, desde o amor que se faz carinhosamente sem pudor tal a inocência às lágrimas quando o mármore transcende o supremo… Ah… eu quero uma boa

Eu diria: quem tem uma rosa tem tudo.





ora como é que vive um pobre,
um pobre sem amor não vive,
sobrevive, olha,
este é o último café




amurado na tarde
o sol chama
na inquietude da alma exangue
no chão que não deveria
ser o meu





aqueceria ele
o coração
num braile
picotado flexível
inclinado a compreender
a noite que lhe sorri
impregnada das mais
distintas sombras
como se a morte
não cozesse a folha em
super
slow
motion

brancura, brancura
subamos à brancura




eu falho
duro, a morrer num ar
de rosa abro o coração
e morro

morro, morro
que a noite esconde
e a música distante
encolhe os ombros
não há pombos, não





Tristes poetas subversivos como cordas faustosas contemplando a luz etérea que cegou o coração filmográfico, dissidente, num inconfundível falsete palpável de óleos acamados na tela insinuando que eu só o queria provar quando eu, sepultado vivo, só o queria tocar. Tristes poetas de merda quando no alto das cobras, rebentem




onde outrora havia peixes
o ermo profundo da morte

onde crescia o vinho
comprazia-se o pão
a terra queimada ferida de morte

deus murchou e a mãe
natura magoada esmagada zangada

onde houver uma possibilidade
lá estará a malvadez, a cegueira,
a fome dos homens continuando

a olhar para nós como seres imperiosos
quando os caminhos de ferro que somos
são o único mal

e se um dia nos extinguirmos
a culpa será sempre do; diabo
os homens são os mais dotados
e esquecem-se de como de faz
amor amor




antes de partir
o pintor
pintou o
próximo

" Um Pintor Tão", Alberto Moreira Ferreira





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