Cena quatro - Da descoberta à alforria

Data 08/11/2021 00:19:52 | Tópico: Poemas

Onde estará minha poesia, as palavras, o traço da inspiração?
Como posso me fazer explicado, sem ter cada dia prá morrer
Sei que não entendi nada da vida ou eu daria passos melhores
Tudo que eu quis me exigiu dor e há partes de mim já mortas
Queria estradas menos agrestes, menos desbotadas, acredite

Aprendi que se me falta e não me mata, justificará estar vivo
Devo dar tudo de mim a mim, sem feridas ou agonias. Só vida
Será que neste jogo, eu sonho com o paraíso de outra pessoa
E este silêncio é alguma maldição monocromática, autofagia?
É que sou viajante do absurdo afogado em vícios inventados

Amores não se olvidam tal quem apaga a luz da sala de estar
Por isso que comecei a escrever como um ato desesperado
Algo para cuspir a angústia para o mundo, me sentir aliviado
Se fosse possível dividir toda essa dor com quem está lendo
Ter alguém que, mesmo por lástima, fosse simpatizar comigo

Mas, se a vida é madrasta, isso nada tem a ver com a poesia
Não dói de ser poeta, mas sê-lo faz a dor se tornar melodia
Faz esconder a melancolia, vestir u’a máscara de alegria ficta
Fui tão machucado, quase perdi o costume de ver a beleza
Mas desabotoei erros e vou me espalhar na vida, de frente

O destino, afinal, abriu com uma mão ruim. E é a minha vez
Basta de ter tudo corrompido, surreal, prisioneiro do chão
Eu que colocara a vitória distante aposto mais uma chance
E nada mais haverá que eu volte a ter medo neste universo
Quando a noite cair vou apagar todas as mentiras do papel

Serei um novo de mim, sem ter necessidades inalcançáveis
Serei afinal capaz de, alforriado, gerir meu próprio mundo





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