Onde estará minha poesia, as palavras, o traço da inspiração? Como posso me fazer explicado, sem ter cada dia prá morrer  Sei que não entendi nada da vida ou eu daria passos melhores  Tudo que eu quis me exigiu dor e há partes de mim já mortas Queria estradas menos agrestes, menos desbotadas, acredite
  Aprendi que se me falta e não me mata, justificará estar vivo Devo dar tudo de mim a mim, sem feridas ou agonias. Só vida  Será que neste jogo, eu sonho com o paraíso de outra pessoa E este silêncio é alguma maldição monocromática, autofagia? É que sou viajante do absurdo afogado em vícios inventados
  Amores não se olvidam tal quem apaga a luz da sala de estar Por isso que comecei a escrever como um ato desesperado  Algo para cuspir a angústia para o mundo, me sentir aliviado Se fosse possível dividir toda essa dor com quem está lendo Ter alguém que, mesmo por lástima, fosse simpatizar comigo 
  Mas, se a vida é madrasta, isso nada tem a ver com a poesia Não dói de ser poeta, mas sê-lo faz a dor se tornar melodia Faz esconder a melancolia, vestir u’a máscara de alegria ficta Fui tão machucado, quase perdi o costume de ver a beleza Mas desabotoei erros e vou me espalhar na vida, de frente
  O destino, afinal, abriu com uma mão ruim. E é a minha vez Basta de ter tudo corrompido, surreal, prisioneiro do chão Eu que colocara a vitória distante aposto mais uma chance E nada mais haverá que eu volte a ter medo neste universo  Quando a noite cair vou apagar todas as mentiras do papel
  Serei um novo de mim, sem ter necessidades inalcançáveis Serei afinal capaz de, alforriado, gerir meu próprio mundo 
 
 
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