Epitáfio

Data 17/11/2021 11:22:09 | Tópico: Poemas

O vento veloz se expandia além dos confins cadentes
Soprava memórias e imagens de quem um dia conheci
Tinha os cabelos lisos e compridos vermelhos de fogo
Seus olhos cinza-amendoados se fixavam na distância
Impossíveis abismos para quem persistia em sondá-los
Sua pele virgínea tinha a cor e textura de um pêssego
Era verdadeira quimera numa viagem feita às estrelas
Porém sua voz não pertencia aos mortais, aos comuns
Seu silêncio como rústica cerca afastava os invasores
Arquitetava verdadeira conjunção de beleza e tirania
Seu ar silencioso e distante devia ocultar alguma sina
Por culpa de homens inferiores a cercá-la mais calava
Certa tarde, sentei-me também em silêncio a seu lado
Podia sentir-lhe a dor, pois a dor flutuava a seu redor
Antes de eu partir, disse-lhe que ela nunca estaria só
Mas era tarde, ela se explicou, disse já tinha desistido
Ficou-me o peso de não ter-lhe antes oferecido a mão
Em seu epitáfio, foi também só o silêncio e nada mais


Suicídio é segunda causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos. Este poema (entre outros) foi redigido para a ação de setembro amarelo em 2021.
A pandemia aumentou em cerca de 15% os suicídios entre elas. Só em outubro de 2020, a taxa de suicídio feminino no Japão aumentou mais de 70%, em comparação com o mesmo mês do ano anterior
Não ignore se alguma pessoa que você conhece mudar de comportamento... eu carreguei muito tempo a culpa de ter demorado a estender a mão.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=359972