para sempre dulcina...

Data 20/11/2021 14:26:43 | Tópico: Poemas -> Saudade

aquele sol que desponta na serra
trás o calor de seus abraços
que se foram naquela manhã espúria

o vento gelado de junho
soprou sobre meus ombros
a brisa do armagedom
apagou os seus olhos verdes
emudeceu o seu cantar,
calou, para sempre sua alegria

vésper, a estrela,
se assenhoreou de ti
- te levou de mim -
e reflete o seu sorriso
na soleira de minha janela
desde o irromper da aurora
até o enfurnar da boca da noite

- vésper se casa com uma lua em forma de unha
naquele deboche descarado
feito bandeira da turquia,
e te mantém como prenda me roubando o prazer de sentir sua presença!

e eu te vejo lá
toda faceira, sorridente
e o meu ventre em pulsas absorve tua alma
e aquele sorriso
encarta a rebeldia daquele saber
que só tu tivestes

contenho-me;
"os filhos sabem mais"

o respirar cansado
e o ar sem o seu gosto
penetra-me e por dentro
eu sufoco a ânsia de chorar por ti,
mais uma vez

mas, quantas vezes
e que chorar,
por mais chorar
só faz abrir o vão de sua ausência

o meu ventre
- onde recostavas o rosto
os meus sentidos
os meus poros
os meus sonhos
clamam e pulsam
por sua presença
numa cadência indolente

e não há passar insentido
a canção que dividias comigo:

"você passou por mim
sem dar-me atenção..."

mas, o infortúnio do desate
veio de ser mais forte
mais forte que nós ambos
mais forte, que todos de nossa casa

e ainda
lá de longe
da lonjura de uma estrada triste
surge o canto de nós todos
"...vem meu ursinho querido
meu companheirinho
ursinho pimpão..."

porquê, os filhos?
ah os filhos
estes só vão depois!

mas você, agora, é só o meu sonho
o grande elo criado entre mim
e o firmamento
- a natureza me desmente

e vésper, é quem te respira
na alva da manhã
e te expõe,
no entrecorte
do anoitecer.

somente vésper te possui
para gáudio de seus delírios
para ornato de seus campos reluzentes
onde brilham
todas as estrelas do éter
e que por certo encantadas
- todas elas
se perdem no sorriso de sua beleza

por cá não me contenho
com o desplante daquele alento
de poder amar-te, além da vida

de onde me vem o soluçar diário.



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