
Cinco poemas para refletir
Data 20/11/2021 23:41:08 | Tópico: Homenagens
| Cinco poemas para refletir sobre a Consciência Negra
Selecionados por Laura Aidar (educadora e artista visual) no site Toda Matéria
O dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, é uma data muito importante para a população brasileira. Isso porque nosso país sofreu quase 400 anos de escravidão, onde pessoas negras foram humilhadas e escravizadas.
O legado desse passado doloroso é um racismo com bases estruturais e o contínuo empobrecimento e opressão da população negra.
Por isso foi criada essa data, para que as pessoas reflitam sobre a história do povo negro no Brasil, sua importância e valorização.
1. Negro forro, de Adão Ventura
Minha carta de alforria não me deu fazendas, nem dinheiro no banco, nem bigodes retorcidos.
Minha carta de alforria costurou meus passos aos corredores da noite de minha pele
2. Sou Negro, de Solano Trindade
Sou negro meus avós foram queimados pelo sol da África minh`alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós vieram de Loanda como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor de engenho novo e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi Era valente como quê Na capoeira ou na faca escreveu não leu o pau comeu Não foi um pai João humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira Na guerra dos Malês ela se destacou
Na minh`alma ficou o samba o batuque o bamboleio e o desejo de libertação
3. Encontrei minhas origens, de Oliveira Silveira
Encontrei minhas origens em velhos arquivos livros encontrei em malditos objetos troncos e grilhetas encontrei minhas origens no leste no mar em imundos tumbeiros encontrei em doces palavras cantos em furiosos tambores ritos encontrei minhas origens na cor de minha pele nos lanhos de minha alma em mim em minha gente escura em meus heróis altivos encontrei encontrei-as enfim me encontrei
4. Integridade, de Geni Mariano Guimarães
Ser negra, Na integridade Calma e morna dos dias. Ser negra, De carapinhas, De dorso brilhante, De pés soltos nos caminhos.
Ser negra, De negras mãos, De negras mamas, De negra alma.
Ser negra, Nos traços, Nos passos, Na sensibilidade negra.
Ser negra, Do verso e reverso, Do choro e riso, De verdades e mentiras, Como todos os seres que habitam a terra.
Negra Puro afro sangue negro, Saindo aos jorros Por todos os poros.
5. Me gritaram negra, de Victoria Santa Cruz
Tinha sete anos apenas, apenas sete anos, Que sete anos! Não chegava nem a cinco! De repente umas vozes na rua me gritaram Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! “Por acaso sou negra?” – me disse SIM! “Que coisa é ser negra?” Negra! E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia. Negra! E me senti negra, Negra! Como eles diziam Negra! E retrocedi Negra! Como eles queriam Negra! E odiei meus cabelos e meus lábios grossos e mirei apenada minha carne tostada E retrocedi Negra! E retrocedi . . . Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Neeegra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! E passava o tempo, e sempre amargurada Continuava levando nas minhas costas minha pesada carga E como pesava!… Alisei o cabelo, Passei pó na cara, e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Neeegra! Até que um dia que retrocedia , retrocedia e que ia cair Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! E daí? E daí? Negra! Sim Negra! Sou Negra! Negra Negra! Negra sou Negra! Sim Negra! Sou Negra! Negra Negra! Negra sou De hoje em diante não quero alisar meu cabelo Não quero E vou rir daqueles, que por evitar – segundo eles – que por evitar-nos algum disabor Chamam aos negros de gente de cor E de que cor! NEGRA E como soa lindo! NEGRO E que ritmo tem! Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Negro Afinal Afinal compreendi AFINAL Já não retrocedo AFINAL E avanço segura AFINAL Avanço e espero AFINAL E bendigo aos céus porque quis Deus que negro azeviche fosse minha cor E já compreendi AFINAL Já tenho a chave! NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO Negra sou!
|
|