Apreendo as cores da luz do candelabro refletidas no teto Com elas escrevo nosso nome na porta que dá para o futuro Antes que nada haja de nós, senão restos de esquecimento Palavras escritas sobre o pó que o primeiro vento irá varrer Em meus olhos cintila a luz da ausência de verões distantes Pedaços anônimos dessa esperança que reside nas sombras Escondida, emudecida sem dar nenhum breve sinal de vida Todos faróis apontam para o mar, mas não há mais velejares O destino é tal qual nevoeiro espesso que pouco permite ver É o livro escrito nas páginas de todo tempo que não é vivido Preso no labirinto de tarefas inúteis em que nada se cultiva Ou se colhe, somente se ordena e reordena sem sair do lugar Ninguém escuta minhas palavras roucas que o vento passeia Mas o que me move é um desvelo, como um animal noturno Colhendo estrelas nuas e deserdadas nas curvas da estrada Onde é tudo tão urgente e febril como os olhares de paixão Em vão chamo teu nome pelas tardes amargas dos meus dias Porém há o abismo de onde não ouves estes versos sem final Uma hora enfim chegará alguma palavra de amor para dizer O abandono pulsa azul para quem traz o mundo nos ombros
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