Deixa

Data 03/12/2021 05:14:17 | Tópico: Poemas


Poeta, deixa a cidade, que é castradora e asfixiante
Vê os campos de trigais, as lavandas, o pássaro voar
Teu poema se tornou duro qual o concreto que pisas
Nesse labirinto cego de míopes, num infinito vaivém
Essa massa muda e cínica que se imagina carne viva

Deixa para trás esse som mecanizado, busca harpas
Dá vida nova a teu poema, reinventa-o com sonhos
O poeta sem a sua loucura, equivale só a um homem
Fustigado por compromissos dessa vida e do inferno
Só se concederá a vitória àquele que não a procurar

Deixa a cidade catastrófica e apresenta-te revivido
Teu sol é recôndito, turvado pela fumaça do diesel
Semente desse quase silêncio. Deixa tudo, deixa-te
A inteligência é o teu mal, uma febre incontrolável
Aprende ver os cheiros que os olhos não enxergam

Vai de volta à natureza, senta na terra e dela come
Aquilo que ela te dá. Bebe da água leve das fontes
Percebas na brisa da tarde, o cantar dos rouxinóis
Gastes um tempo a subir ladeiras só para exercitar
Negar o mais fácil, flor sem espinho, amar sem sofrer

Deixa esse mundo de palavras criadas para enganar
Faças da verdade o teu poema e deixes tudo mais



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