Poeta, deixa a cidade, que é castradora e asfixiante Vê os campos de trigais, as lavandas, o pássaro voar Teu poema se tornou duro qual o concreto que pisas Nesse labirinto cego de míopes, num infinito vaivém Essa massa muda e cínica que se imagina carne viva Deixa para trás esse som mecanizado, busca harpas Dá vida nova a teu poema, reinventa-o com sonhos O poeta sem a sua loucura, equivale só a um homem Fustigado por compromissos dessa vida e do inferno Só se concederá a vitória àquele que não a procurar Deixa a cidade catastrófica e apresenta-te revivido Teu sol é recôndito, turvado pela fumaça do diesel Semente desse quase silêncio. Deixa tudo, deixa-te A inteligência é o teu mal, uma febre incontrolável Aprende ver os cheiros que os olhos não enxergam Vai de volta à natureza, senta na terra e dela come Aquilo que ela te dá. Bebe da água leve das fontes Percebas na brisa da tarde, o cantar dos rouxinóis Gastes um tempo a subir ladeiras só para exercitar Negar o mais fácil, flor sem espinho, amar sem sofrer Deixa esse mundo de palavras criadas para enganar Faças da verdade o teu poema e deixes tudo mais
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