| A solidão da noite é sinal que as sombras se multiplicamO silêncio justifica a noite calada, num vaivém disperso
 Eu a vi por detrás da clara máscara, armada para a vida
 Parecia passear pela rua adormecida, a desafiar o vazio
 A chuva serena marcava de finas linhas a minha vidraça
 Como preciosos pontos de prata, que flutuavam pelo ar
 Ela seguia majestosa meio as últimas figuras sonâmbulas
 Seus cabelos balançavam entre as ramagens das árvores
 Imaginava quão formosa seria sua boca ou doce sua voz
 No brilho de seus olhos de esmeralda a poesia se ilumina
 Ao longe, ouço os últimos silvos dos carros pela estrada
 Na quietude amarga, eu queria recusar-lhe o movimento
 Ou saber alguma fórmula, para não perdê-la na distância
 Foi assim que me fiz pássaro a incendiar no frio da noite
 Em toda timidez, asas abertas, alcancei-a num momento
 Contei-lhe da energia fluindo, apenas com sua passagem
 Quem sabe foi o cântico do vento ou o rumor da poesia
 Ela olhou para mim e a vi sorrir interrompendo sua fuga
 Eu a despi com o olhar, ela me despiu de todas palavras
 Nos despimos de gestos e fomos essência até o sol raiar
 
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