Uma trova de gaúchos - final

Data 13/12/2021 13:20:02 | Tópico: Poemas

- Sou um gaúcho do sul
onde a tradição perdura
Faço um verso de puaço
sem perder a compostura
Hoje nós vamos na trova
defender nossa cultura
e mostrar nesta cidade
que nossa autenticidade
não se trata de grossura

- Não se trata de grossura
mas da praxe pampiana
Terra de Elis Regina,
Lupicínio e Quintana
de Jayme Caetano Braun
de tanta gente bacana
que se repassar a lista
só com nome de artista
fico mais de uma semana

- Fico mais de uma semana
Este é o pampa tricolor
que na capital ostenta
monumento ao laçador
pois pra lida do campeiro
ela soube dar valor
Mas pra ti não tem arrego
eu não vou te dar sossego
por dizer que é trovador

Por dizer que é trovador?
Hoje digo aos presentes
por eu ter posto teu nome
no rol dos incompetentes
foi ficando tão furioso
que até trincou os dentes
Sem saber o que dizer
ficou perto de ofender
até mesmo meus parentes

- Até mesmo meus parentes?
Na lata dizer eu vou
Sei que tu nunca será
o troveiro que eu sou
Tu tentou me superar
mas o tempo já provou
na arte de improvisar
só sabe o que é trovar
quem comigo já trovou

- Quem comigo já trovou?
Pois eu quero te dizer
Nem no teu dia melhor
tu consegue me vencer
Se um grande trovador
tu ainda sonha em ser
conhecer algo é preciso
que a arte do improviso
nunca é tarde pra aprender

- Nunca é tarde pra aprender?
Respondo com um ditado
Prefiro cantar sozinho
do que mal acompanhado
A mentira é um petiço
e tu vai nele montado
Sem minha capacidade
tu perde oportunidade
de permanecer calado

- De permanecer calado?
Isso é um grande mistério
Tu só é melhor na trova
pelo teu próprio critério
Mas estou desconfiando
do discurso do gaudério
No calor de um salseiro
muito fácil é um troveiro
te fazer sair do sério

- Te fazer sair do sério?
Tá ficando é atrevido
Os maiores trovadores
a tempos tenho vencido
Quem saiba rimar melhor
eu procuro constrangido
Quem tentou rimar igual
em galpão ou festival
nunca fez nem parecido

- Nunca fez nem parecido?
Mas eu digo ainda bem
que atochador maior
nunca conheci ninguém
pois se não posso tirar
esta balda que tu tem
numa coisa eu não errei
um plebeu metido a rei
eu não quero ser também

- Eu não quero ser também
Tu vai ver a coisa preta
Idéia eu tenho de sobra
pra mais de uma carreta
Tu só tem verso de manga
que anotou na caderneta
Eu não trouxe uma torcida
mas eu ganho esta partida
sem sujar a camiseta

- Sem sujar a camiseta?
Não diga tanta besteira
O meu verso é elegante
mas o teu é bagaceira
Quando fica sem resposta
perde até a estribeira
Eu vou te deixar sem chão
pois a minha intenção
é te dar uma rasteira

- É te dar uma rasteira?
Não é a conduta minha
sou da estirpe do Gildo
Gato Preto e Teixeirinha
Pedro Ribeiro da Luz
Delavy e Formiguinha
Luiz Müller e Tereco
Te dou só um peteleco
e tu desaba na rinha

- E tu desaba na rinha?
Tu só vai ganhar no grito
quando sapo estrebuchar
engasgado com mosquito
ou tropeiro repontear
cavalgando num cabrito
Me inspiro em Pedro Canga
Se fosse verso de manga
não seria tão bonito

- Não seria tão bonito
tu me diz de relancina
mas é hora de encerrar
a nossa trova sulina
Só queremos divulgar
nesta arte genuína,
simples e popularesca
a cultura gauchesca,
brasileira e latina

- Brasileira e latina
E tu com tua carreira
tem honrado a memória
dessa geração primeira
servindo de inspiração
pra juventude troveira
que sem fazer um hiato
deixa pintado o retrato
da terra sul brasileira

- Da terra sul brasileira
onde nem tudo são flores
mas de encanto conhecido
pelos velhos trovadores
que deixaram registrado
os seus imensos valores
Tradição que se renova
em cada verso de trova
dos novos versejadores

- Dos novos versejadores
é a certeza que trago
Eu também na minha rima
nosso folclore propago
e quem nos tempos remotos
foi chamado índio vago
transbordava em sentimento
vendo chegar o momento
de estar voltando ao pago



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