A Carta que nunca Me escreveste ou a simples confissão do Teu Pior crime

Data 29/04/2008 22:22:40 | Tópico: Mensagens

A dada altura já não me interessa qual foi o teu caminho ou qual foi o meu, porque não nos cruzamos ainda ou porque esta vida ainda não nos colocou no mesmo caminho, a dada altura só penso no amor que sentimos e isso me enche o peito de ar puro. Lacrimejante ainda sinto o meu coração pulsar com as tuas imagens, meras recordações de outras vidas.
, saltos sobre o azul disperso de um mar eterno de amor, pulos sobre o pote de ouro no fundo do arco-íris, ouro sobre o azul? Sim, porque não?!
Creio que foi o teu sorriso cativante ou então as mãos, as mãos de quem já sabe de cor o meu toque, sem no entanto, nunca me ter tocado, as mãos de um caçador de estrelas, de um acendedor de candeeiros, de um iluminador de vidas. Creio que, no fundo, foi tudo, foi um mundo inteiro, perfeito, único, foi tudo isso que nos fez de repente ganhar asas e voar sobre as nossas vidas passadas, de mãos dadas com o pôr-do-sol e com o azul do céu, descobrir por fim a plenitude do sentir, o ritmo acelerado de dois corações que batem em uníssono.
Que esta carta seja uma prece, uma voz que se eleva em silêncio por cima do barulho que se impõe, uma prece por ti, por mim mas, sobretudo, por nós, porque muito temos ainda por viver embora nos pareça impossível.
Não julgues que não sei que por detrás desse ar sério há um coração a precisar de me descobrir, não penses que não sei que por detrás de tudo o que já passou há duas almas a falar mais alto, a tua e a minha, apaixonadas, fora e dentro de si mesmas, tão cheias de vida, tão cheias de tudo que permanecem quase sorrindo a um mundo que têm longe uma da outra, habituando-se, camuflando-se, mas nunca, em tempo algum, deixando de sentir a irremediável falta a cobrir tudo, a irremediável ausência.
Ainda assim o que sei é que de te amar tanto pouco do que te tenho basta, isso já é tanto que me enche o peito de um ar puro, o ar que faz falta, o ar que me não mata ao contrário do ar que me rodeia.
Se eu conseguisse ao menos fazer ver ao mundo como a distância não dispersa nada, se conseguuisse fazer ver-te tudo o que a minha alma sente calada, se eu conseguisse, na minha mera condição humana, atar as nossas almas uma à outra num nó cego que ninguém conseguisse desapertar.
Resta-me esperar que os nossos caminhos se cruzem, não podemos forçar as rédeas ao destino, não podemos sequer domá-lo como se fosse uma fera, resumo-me à minha insignificância na espera infinita por/de ti.



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