Não escutarás de mim as sílabas sombrias e inquietas Porque me disfarço de eternidade nestas horas rasas Para, sorrateiro, beijar tuas asas como a ardente seta Com que Eros tocou-me de ti na insônia das estradas E assim fiz um céu construído a fogo, almíscar e mel Cheio de estrelas bêbadas do teu canto, meu sorriso
Não verás minha vida e morte embebida de cotidiano Nem terás esta saudade embriagada num sonho irreal Farei que tudo mude, mas que conserve a tonalidade Do homem que sempre quis sonhar, sem fugir do real Sem o sonho governar o ser, na intensidade da razão Olhar, pensar, depois de tudo, quedar-me subjugado
Não sentirás meu rosto úmido das lágrimas chovidas Que, todavia, não esquivarão do espelho inclemente O amor não é o sobrenatural nem algo de miraculoso É o sentimento que deve fluir sem esforço, igual flor Que não precisa de esforço para exalar seu perfume E um dia perfazer a promessa de ser fruto e semente
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