Por Amor

Data 05/01/2022 17:42:08 | Tópico: Poemas

Este poema, como uma espécie de homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, rompe com meu estilo usual de escrever, sem abandonar a veia surrealista, entretanto, que é minha forma de dizer que a poesia foi, é e sempre será um gesto de rebeldia.








Ah vida, o que não fiz por amor
Janelas abertas, mundo fechado
Versos avessos, verbos errados
Buscas concretas, edifícios virtuais
Ruas sujas e caminhares descalços
Absolvição silente ao pé do cadafalso
Por amor, eu me fiz em verdade
Sofri, calei, berrei sempre sem rima
O ser que fala, aspira ao dom de criar
Perfaz do sacrifício em seu desejo
O agridoce sabor do desconhecido
Meu próprio sabor de ter existido
Por amor vivi, morri, sangrei, sorri
Sonhei sonhos leves, sonhei pesadelos
Briguei co’a escuridão na paz da luz
Ao pé dos ipês, ouvi o bem-te-vi
Quis ser o céu azul, o sol, o sal, o cio
Ao ver a revoada das andorinhas
Sem medo me lancei em ti, vida
Nas águas, nas marés, na chuva
Fui incompreendido, obra inacabada
Por amor, fui pai e, assim, o filho
O poeta (o homem) é apenas sôpro
O futuro é o hoje, o oblívio da morte
Diga-me o que resta fazer por amor?



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