A vida é tão sem dono como um cão vadio!

Data 30/04/2008 11:38:28 | Tópico: Prosas Poéticas

A vida é tão sem dono como um cão vadio!

Cala-te!
Ouve-me!
Se o amor são dois tempos eu já estou no segundo.


Há no teu olhar um detalhado bosque, altivo, forte, cativo de gestos sufocados nas mãos que não alcançam mais do que a si próprias. Há no teu olhar tão delicadamente pousadas mil aves migratórias prestes a voar, com a aproximação da Primavera. Há no teu olhar um vale de girassóis plantados, floridos eternamente. Há, há no teu olhar raízes bem profundas de tudo o que um dia foi passado.

O passado é o presente mascarado no Carnaval do futuro.

Canções de amor são prelúdios anunciativos de um estado de espírito,
verdades indefesas que se estendem no estendal da vida sem vergonha de se mostrarem.

E há no teu olhar palhaços sem medo, de tempos que em segredo já lhes pertenceram, há vozes distantes, risos ausentes e esperanças dormentes que esperam isoladas no tempo. Há jardins de rosas coloridos, com espinhos doridos, com vida em desalinho. Mas há no teu olhar um passarinho que canta o futuro enternecido com as asas apontando para Sul.

A vida é tão sem dono como um cão vadio!

Não há no teu olhar o meu cravado,
não há tintas de luz no teu passado,
não há muros que se erguem entre nós...
Só há um bosque inteiro onde te escondes,
um mundo renovado onde me encolhes
por detrás de tudo o que habita em nós.

A vida é tão sem dono como um cão vadio!

Sou uma sem- abrigo. Todos somos!


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