Ferida Aberta

Data 22/03/2022 12:48:00 | Tópico: Poemas

Naqueles dias corridos em que o tempo era escasso para os inúmeros compromissos e a multidão desenfreada esquecia, distraída, os enigmas singulares que o sussurro da criação pronunciava no vento, a mulher desconhecida reparava a ferida irreparável que a força de tantas horas de batalha sulcara em seu corpo.
Naqueles dias corridos, a pressa sufocava, a angústia aprisionava, o suor era de dor e a mulher resgatava as suas partes com a profundidade dos campos de acácias.
Reparava a ferida com o unguento da ternura de sua carícia cansada.
Nas mãos uma história rasgada pelo tempo.
No corpo a memória da raíz da paixão marcada pelos golpes ásperos da tempestade que dizimara sua seiva existencial.
No olhar uma espera do inabalável, da verdade que infunde o suceder de gestos que não se façam poeira na inquietude do relógio, no tumulto da cidade, nas palavras mecânicas.
Os simples gestos que no silêncio da valsa das acácias reconstroem um semblante outrora esquecido.
Gestos tão envoltos em verdade que os propósitos das palavras se tornarão menores ante a magnitude do sentir.


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