Comentário

Data 01/05/2008 16:24:52 | Tópico: Textos

Minha ousadia tão simples é um tipo especial de realidade: o que me orienta os passos das palavras é a bússola do meu salto agulha; eu vivo sobre a sombra anêmica do espanto, como uma flor que desabrocha constantemente na estufa arcaica da instantaneidade; dentro de mim não há abismos demonstráveis, sou uma letra. Quero não ser alegre, apenas beber orvalhos – ópio gratuito dos que nada têm. Quando escrevo (sem nenhuma aptidão legível) firmo um acordo com meu espelho anatomicamente dúbio, como todo empreendimento amoroso. Eu sou geograficamente correta, consegues ver-me sem teus olhos puramente decorativos? Sou mulher e palavra, confundidas; um desaforo ameno, provisório; amo o rigor deformado da forma, a tentativa estática do movimento. Não sou um adjetivo vindo do plural, francamente! Sou um advérbio de modo, do meu modo. Porque a cada um compete o seu próprio mal-estar. Ou não.


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