Destacam-se as folhas do calendário, céleres como sempre Açodadas pela rotação inexorável dos ponteiros das horas O tempo vaza sem rumo, sem nexo em sua marcha infalível Ao tempo, apenas os velhos fantasmas resistem desditosos E que preenchem o vazio impenetrável dessa minha solidão
A dor que apunhala, a ideia que exala, a gala me cala a fala
Descerro a janela do isolamento, deixo entrar uma fímbria de luz sobre o ranço do passado que me devora as utopias O sussurrar remoto do rio, o trinado dos pássaros partidos Entre o bem e o mal sou a fome de resistir à dor desta vida Entre o certo e o errado sou a sede que adere nas palavras
A dor sentida a cada partida na lida desconhecida da vida
O copo na mão, esta noite, o negrume lá fora faz sentir só Deixe-me lembrar tua imagem, que ouça tua voz de paixão Deixe minhas mãos vagarem por teu corpo, qual um dia fiz Relembrar nesta quietude profunda que eu sempre fui teu Fazer-te sentir minha, num último beijo prolongado, sonhar Tempo vassalo, na dor exalo, igualo o que falo e o que calo
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