A mentira dita na hora da verdade

Data 18/05/2022 14:07:03 | Tópico: Prosas Poéticas


Da verdade da mentira,
Eu desisto,
Desisto da confusão
E da razão da mentira ser dita
Por mim ou por outrem
Noutro lado da rua da praça.
Quem sou eu pra ser juiz
Nos tribunais das palavras
Ditas e desditas por homens
Como eu?
Sou pobre diabo,
Que não sabe dar direcção
Ao martelo, na hora de dizer
Quem é dono da verdade
Atrás da culpa, que o culpado
Rejeita.
Conheço leis qu’ora
São verdadeiras, ora falsas, aliás,
Verdadeiras nunca foram,
Se verdadeiras fossem,
Não haveriam advogados
Que fazem da culpa do culpado
A razão invertida.
Por não ser juiz nem advogado,
Fico d’olho na justiça injusta,
Que recai sobre homens de bolsos do vento.
A justiça, a justiça é só pra homens
De algibeiras rotas;
Quantos bilionários já foram pegos
Com a” boca na botija”? Foram tantos;
O dinheiro fala mais alto
E são escudados da impunidade
Pelos homens que advogam
A verdade das inverdades.
Se um pobre for pego a roubar
Uma galinha, a pena da prisão,
Valer-lhe-á, todas as penas da galinha
Roubada.
Por isso, desisto dos homens
E da razão da mentira ser dita
Na hora da verdade.

Adelino Gomes-nhaca



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