A cama

Data 31/05/2022 04:27:14 | Tópico: Poemas

Na cama pesa-me o ar que ocupa a tua ausência.
Que me afunda os ossos no mar do esquecimento.

São daqueles sentimentos que já não habitam a humanidade
Desde que esta se deixou de humanismos.

Estou de volta à cama que te tem cravada nas formas.
São, terrivelmente, um diário meu.

Cada sulco é filho da formação que éramos
Aquando o jogo das lendas em que o bem e o mal secretamente se amavam.

Inspiro um pouco do ar que ocupa o teu espaço no meu mundo.
Imaginava eu que a matéria, um dia, por desmedido
Repatriamento sentimental, se iria evidênciar mais pela falta que pela privação.

Lembro-me das tuas respirações...
Outrora respiravas o meu ser.
Eram nelas que residiam as declarações que nunca me foram dadas.

Viro-me para o outro lado,
Tentando não cair no abismo que no colchão está chamuscado.

Mostro-me calmo para inocentar a falta do indivisível.
Tens ainda a química forma que me corre nas veias.

E no fumo parado no momento,
Antevejo tuas delegadas formas obstinada.

Fazes mais falta ao quarto que a mim...

Cerro os olhos de cansaço.
Não te tenho no regaço.

Adormeço sem te dedicar nervos ou entendimentos
Não te sustento na tristeza que me pesa o ar.
Não, hoje não chorei por ti.

2007
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