
Criação do (meu) Mundo em 7 dias sem descanso.
Data 20/08/2022 16:15:05 | Tópico: Poemas
| Dia um: Constatação
A vida é um caminho justo entre as curvas do tempo Estas que nós, tolamente, ponderamos que são retas Quais restamos emaranhados em geometrias insólitas Cegos tateando pela luz que não podemos encontrar Em meio a lamentos ímpios ou silêncios desenlaçados Lápides onde rareiam nossas mais ternas lembranças São muitos desalentos vitalícios, albergados na alma Até reconhecermos que estamos fadados a essa dor Cujas razões nunca vamos confessar nos faz justiça
Dia dois: Encontro
As estradas a caminhar se mostram de forma inusitada Nada era igual naquele dia tão desigual entre desiguais Seus cabelos dourados pendiam em cachos nos ombros Seus vividos olhos de esmeralda, limitaram o meu olhar Ela caminhava quase a flutuar, seus gestos ondulantes E sua voz angelical. Não havia como não me apaixonar Foi nascida paixão, mas foi mesmo a semente do divino Em terra fértil, ela germinou e venceu todos os limites Ocupou todos os sonhos, ocupou o tempo e o espaço
Dia Três: Tempo
Ah, tempo breve! Uma vez, dono das memórias gentis Outra vez, senhor desse desassossego cru, tão hostil Que consome ilusões, despe-nos de tão caras imagens Ergue prantos antes calados e rumores encurralados Conspirando meio à neblina na solidão da madrugada Deixando na estória da noite só as saudades arredias O coração remanesce na hipnose do oblívio ilimitado Como anteparas para esconder-se essa dor contumaz Mas, cicatrizes perenes obstam negar tão acre sofrer
Dia Quatro: Partida
Mas a carinhosa lembrança dessa esperança irretratável Jaz entre as touceiras dos espinhos na beira do caminho Eu, fora embriagado de tanto amor nem sinto o perfume Que antes inundava todos os cantos e horas, noite e dia De toda vibração restou um fado nostálgico agonizante Só há distância, desejos mendicantes e um peito faminto A aurora na bruma estéril mirra o último sonho redentor Todo um universo quântico e a mim cabe apenas silêncio A doçura da brisa ficou fora, quando a porta se fechou
Dia Cinco: Novo Tempo
Quis enfrascar os momentos que vivi no topo do mundo Os lençóis matutinos desalinhados qual prova da paixão Mas descobri o que muitos sabem há tantas existências É o tempo que abateu flores, o mesmo que trará frutas Estas tão melodiosas e doces, quão aquelas foram belas A madrugada serena exala novos perfumes, quais beijos Levam-me a escrevinhar novos versos não mais reclusos Não mais soturnos nem agonizantes, porém revigorados Regendo a orquestra de sentimentos, irrequieta paixão
Dia Seis: Urgência
Insensata dor, tu ó dor, porque me querias emudecido? Solidão, lamentos, ódios e espadas para nada nos urgem Beijos e risos, correr pela claridade da manhã é urgente O amor é a urgência, como é o barco a quem vai no mar Assim qual saborear o som dos rios e das quedas d’água Lá onde reside a antítese do silêncio que oprime o peito Saber que a beleza da rosa afronta a frieza dos adeuses E nossos sonhos quase infantis seguem fartos de afetos O amor é aconchegar no nosso interior um novo frescor
Dia Sete: Reencontro
Ela tem os olhos mansos, os cabelos são quais os trigais Viemos de eras pluviosas torrenciais, ora cumpre estiar Sua voz é mansa, o olhar intenso mira minh’alma exilada Sei que ainda tenho lamentos aonde quero mais sonhos Mas reaprendi a voar, meu pouso é seguro em seu peito Vou ao encontro da vida no sopro quente da primavera Para além das portas de quaisquer desalentos vitalícios Abandono a busca pelas respostas inadiáveis e incertas Louco, ignoro o destino, o que faço nas linhas do verso
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