Célia é muito religiosa e vive dizendo que "as más conversações corrompem os bons costumes". Ela não é preconceituosa nem racista e sabe o que é respeito.
Vejam as "conversações" e tirem suas conclusões.
Célia- Fábia, Zico é aquele que vende acarajé próximo ao mercadinho?
Fábia- Sim. O Acarajé da Zete. Ela vende acarajé há 40 anos. Eles também fazem delivery.
Célia- Eles têm "cara de macumbeiros".
Fábia- Eu não acho.
Célia- Eles devem morar naqueles " quartinhos" cheios de meninos sujos e cachorros. Eca!
Fábia- Não sei. Eu sempre compro acarajé com eles.
Célia- Zico ainda está com aquele cabelo rasta?
Fábia- Zico nunca foi rasta.
Célia- Era sim. Eu conheço eles a mais tempo que você. Pegava mal aquele cabelo rasta dele. Quem trabalha com alimentos tem que ter boa aparência, tem que ser limpinho. Ainda bem que ele mudou o visual. Eles chegavam juntos dentro de um carro, por isso eu disse que eles têm cara de macumba, entende?
Fábia- Associar uma família negra e um cabelo rasta à sujeira e a macumba é preconceito demais para minha cabeça. Eu preferia não ter entendido.
Célia- A maioria deles mexe com isso mesmo. É fato.
Fábia- Que comentário preconceituoso. Enxergo uma mãe de família que criou, sozinha, seis filhos, vendendo acarajé. Uma mulher guerreira. Chegavam ali juntos, todos ajudavam a mãe. Eles se tornaram "homens de bem", pais de família, trabalhadores. O único que ainda trabalha com a mãe é Zico, como motoboy, fazendo as entregas de acarajé. Você poderia ser Dona Zete ou uma de suas filhas, sabia?
Célia- Deixa quieto. Vou colocar o lixo para fora.